segunda-feira, 14 de maio de 2007

Almodóvar nasceu morto

Mas aqui vinha Wong Kar WaiChungking Express” e Tarantino…passo a vez ao Capitão que abaixo faz expressão de bom gosto.
Em substituição Fassbinder.

Para quem tenha lido o Y (do qual o público é suplemento todas as sextas-feiras) ou para quem no mês passado coabitasse a cinemateca de Lisboa ou para quem tenha lido o que neste blog há para ler acerca da Nouvelle Vague ou em fim para quem o cinema não seja já um orifício, apertadinho…Rainer Werner Fassbinder.
Almodóvar nasceu morto, “Querelle” (1982) na minha experiência a primeira aproximação ao porquê Gay.
Esqueçam isso do género Queer, se fossem um marinheiro solitário ancorado num porto longínquo iam perceber… Nada de a "Brokeback Mountain”, passarinhos chilreantes e pik niks gratuitos apenas suportados por isso do cow-boy profanado. E ao cálido de Almodóvar Querelle opõe vermelho, vermelho e mais vermelho.
Trata-se de um filme de intensa e obsessiva beleza, cenários teatrais deliberadamente antirrealistas. No exterior um eterno sol que se põe, no interior uma forte reanimação da mímica gay com polícia, marinheiro e construtor civil incluído.
Querelle desembarca no porto de Brest onde reencontra o irmão Robert, este faz de amante da senhora do Bar Feria. A senhora do Bar Feria é a mulher de Nono com quem todo aspirante ás meninas do bar tem de jogar aos dados, quem ganha copula quem perde é copulado, por Nono.
É neste ponto em que Querelle se lança num largo percorrido de descortinar interior, situações defenidas á força de uma tensão erótica e onde a homossexualidade é transportada para um patamar existencial onde o assunto se despoja de toda banalidade.
Há iconografia gay é certo mas há sobretudo novos olhares, uma forma diferente de entender tanto o assunto como a forma em que ele é tratado.
Há o meio trabalhado em que a mulher tem como único representante uma velha alcoviteira, a figura dominante é portanto o homem, o homem sobre o fraterno do homem e onde por isso a mulher é deslocada, assume a maternalidade e opõem-se a qualquer ideia de desejo. È ela que canta “todo o homem mata aquilo que ama”.
Há em todo o filme segundos de eternidade… Digo “Ultimo tango em paris” e surgem dois corpos involuntários num quarto vazio. Digo “Underground” et voilá uma mulher dança agarrada a um tanque, digo a Querelle e surge Nono... por detrás. Não brinco! Sente-se verdadeiramente alguma coisa de elevado na forma como se regista esta primeira relação… sobre isto comentários á parte…
Quanto a Almodóvar não levem a sério é só um mau título e nada mais.
A reprodução única que consegue acerca de la Movida Madrileña (movimento contracultura iniciado em Madrid) faz-me perder toda a malícia critica.

Que o meu complexo de escrita nao fira nunca a sensibilidade de quem nunca viu e se vê por isso privado de ver, em favor do meu comentário.
Desculpas antecipadas a essas vistas sensíveis. Por minha parte não me abstenho de comentar o que seja, sempre que o que é, seja o cinema!

3 comentários:

luisjorge disse...

O teclado não me obedece aos links, prometo resolver o assunto...rápidamente

André disse...

Realmente a minha vista recentiu-se um bocado com o título, mas subscrevo por completo a crítica ao Querelle. Já o vi à algum tempo e nunca o tinha achado tão bem analizado, sim senhor! O filme dos cowgays nunca cheguei a ver mas era essa a ideia que tinha: picnics e passarinhos...

capitaotimor disse...

Já tinha ficado curioso quando li no agora ípslon e depois do teu post esta ainda ficou mais aguçada. Pelo que li o homem foi muito prolifico, lázaro não se arranja aí uns dvd's com a obra da pessoa. Já agora Querelle é o título de uma da melhores músicas dos Pop Dell'Arte, de certeza que tem alguma coisa a ver. Continua a comentar tudo o quiseres Luís, é sempre agradável ler as tuas postas.