terça-feira, 24 de abril de 2007

Sobre o expressionismo cinematográfico Alemão

Seguindo cada um a sua fantasia, começo pelo princípio da minha.
O passado do que aqui se fala é feito de um incontestável branco e preto mas é também feito de muitas outras impressões tão fortes como esta e que transformavam o aborrecido desse daltonismo numa realidade estranha quase sempre muito sugestiva. Neste processo maneirista mistura-se o trabalho de alguns pintores (em meu favor o de Kokochka, Kadinsky e Munch) com evidentes repercussões não na cor (ainda que haja actualmente tentativas disso pela escola de F.W. Murnau) mas sobretudo na estética. E porque falar disto é falar do trabalho de mestres como o de Fritz Lang em Metropolis (1927) ou de F.W. Murnau em Nosferatu, eine Symphonie des Grauens (1922) é precisamente por este último que queria iniciar o meu percurso pelo blog.
Terá sido por esta cultura do fantástico, primeiramente pelo universo vampiresco de Bram Stoker e posteriormente pelo romanticismo mudo de coisas como Aurora (1927) (Sunrise: A Song of Two Humans) que descobri o cinema na forma aproximada ao modo como hoje o concebo.
Mas sobre o nome de F.W. Murnau fica a promessa para outra altura. Falamos de expressionismo Alemão, situamo-nos no ano de 1919 e na criação do primeiro mito do cinema “O gabinete do Dutor Caligari” (1920) (Cabinet des Dr. Caligari., Das).
O argumento do filme decorre da imaginação do poeta Checo Hans Janowitz e o Austríaco Carl Mayer assim como de acontecimentos que ambos presenciaram num espetáculo de feira em Hamburgo onde um homem fazia milagres de força num aparente trance Hipnótico. O guião seria apresentado a Erich Pommer quem o acabaria por propor a Robert Wine (realizador checoslovaco pouco conhecido) depois de ter sido recusado por Fritz Lang em favor do término do serial “as aranhas”.
A estória transcorre numa aldeia fictícia (HostenWall) situada no norte da Alemanha perto da fronteira Holandesa onde o médium Cesare comete uma série de crimes sob as ordens hipnóticas do Dr. Caligari.
A ideia dos guionistas seria denunciar a actuação do estado Alemão que durante a primeira grande guerra utilizou os seus súbditos como Caligari a Cesare.
A minha posição é menos especulativa: o expressionismo como corrente estética é apoiado em impressionantes decorados distorcidos com chaminés obliquas, ruas contrafeitas, casas atravessadas ou janelas em forma de flecha, então, a temática não podia ser outra que o inconsciente, o crime, a agressão, o desejo, o erotismo…
A atmosfera é em suma inquietante, ameaçadora, as personagens altamente estilizadas, a melodia é ácida como aliás, representativa do género. O expressionismo surge com “o Gabinete do Doutor Caligari” fazendo uso das linhas das formas e dos volumes como uma introdução directa no estado de ânimo que se pretende injectar em forma de nervo.
Talvez o expressionismo não pudesse surgir fora do angustiante contexto político-social Alemão, e é como reflexo a única forma em que consigo entender alguma espécie de mensagem político. Fora isto arte, fora isto cinema.

“Não amamos tanto o cinema pelo que é como pelo que será”
Marcel Proust (1871–1922)

Sem comentários: